Com a estreia, neste final de semana, do aguardadíssimo Invocação do Mal
(The Conjuring), filme que já é sucesso de crítica e público, do mesmo
diretor de Jogos Mortais e Sobrenatural, James Wan, resolvemos pegar o
gancho para falar de mais terror, horror e sustos.
A lista
dessa semana ousa eleger os melhores filmes de terror de todos os
tempos. Se serão iguais à sua lista, leitor, não sabemos, mas podem ter
certeza que cada um dos indicados nos fez gelar os ossos e ficar com
receios de andar sozinho em casa durante à noite, ou ao menos garantiu
bons pulos do sofá.
Se você discordar dos indicados que
seguem abaixo, sinta-se à vontade para deixar quais seriam os seus nos
comentários após o texto:
A Bruxa de Blair
(por Márcio Andrade)
Ainda me lembro de conferir o fenômeno
que esta pérola do cinema independente foi no ano de seu lançamento,
quando tantos detratores acusavam o filme de ser “sem final” ou “mal
filmado”, eu aplaudia de pé a estratégia de seus criadores em
transformar o vídeo doméstico em algo tremendamente assustador para o
público. Se tanta gente reclama das “atuações” dos três jovens cineastas
e do “amadorismo” do filme, digo que tudo isso, para mim, contribui em
uma atmosfera de maior verossimilhança e autenticidade, pois o
descontrole daqueles jovens diante daquela situação fica ainda mais vivo
e espontâneo, algo que [REC] e tantos outros filhotes do found footage
tentam, mas ficam no meio do caminho.
[REC]
(por Caio Vianna)
Já vou chegar chegando pra discordar de
Márcio Andrade quando este resolve tratar o filme de Jaume Balagueró
e Paco Plaza como um filhotinho das grandes obras do gênero. Se ele
ainda tivesse falado das porcas continuações, ficaria calado, mas [REC] é
não só um expoente do terror espanhol, cinema que vem crescendo cada
vez mais nesse filão, como é um dos grandes exemplos de found footage,
já que o usa da maneira mais diegética possível, e também tem um
fantástico design de som que até hoje vira destaque entre tantas
produções. E a história não poderia ser mais simples, mas ainda assim,
dando margem para o desconhecido e para um final capaz de nos deixar de
cabelo em pé diante das inúmeras possibilidades que se abrem para a
pergunta: o que seriam os zumbis que invadem o prédio?
O Bebê de Rosemary
(por Rodrigo Rigaud)
Sabe quando você se apaixona por alguém?
Seu coração acelera, você transpira desenfreadamente, não consegue
dormir pensando nela, suspira quando ouve falar seu nome, se arrepia com
aquela canção que marcou vocês e tudo que você vê, ouve, fala, lembra
algo que você conjectura na pessoa amada? Meus primeiros meses após ver O
Bebê de Rosemary foram assim. Depois os segundos, os terceiros, os
quartos, até que a paixão transpassou os anos, e hoje estou eu, no auge
de minha (ainda não muita) idade, para, mauríciosaldanhamente falando,
dizer que a obra-prima de Polanski me arrancou calafrios, lágrimas,
noites parcialmente dormidas, dias, perplexo, imaginando a profundidade
da frieza e sagacidade humana, inescrupulosa, maldita, obscura,
diabólica, bela, sutil, divinamente infernal. Afinal, o que há de mais
sagrado na visão cristã, deísta, de mundo, do que a maternidade? E se
seu filho for o próprio filho de Satanás? E se você for estuprada pelo
Diabo e tiver em seu ventre uma semente dele?
Roman Polanski nos mostra com perfeição,
frieza e crueldade tudo que há de divino no mal e de mal no divino. O
filme inteiro é um desfile de perfeição formal, perícia técnica, num
casamento satânico entre a fotografia magistral em cores vivas, tons
pastéis e longas tomadas em penumbras sufocantes e agoniantes. Somos
dopados pela trilha sonora do Komeda, que combina os metais às cordas,
torturados pela fluidez pictórica da “câmera entidade” do Polanski e,
enfim, somos arrebatados por um put*%4 de um roteiro que nos faz ver a
verdadeira face do horror, que está longe de ser aquela que não vemos.
Na realidade em um único enquadramento descobrimos que os demônios estão
no meio de nós. Alguns deles somos nós. Enfim… Já falei demais. Meu
filme favorito. Um filme a ser visto e vivido a flor da pele à cada
momento.
O Iluminado
(por Márcio Andrade)
Esse clássico do cinema, conferi num VHS
da locadora do meu bairro e lembro-me claramente de não conseguir
distinguir muito bem o final por causa da fita magnética carcomida pelo
tempo, mas nada disso me tirou o impacto desta obra que, se King não
curtiu, várias gerações de cinéfilos até hoje veneram. Os olhares
ensadecidos de Jack Nicholson e a direção doentia de Kubrick fizeram
deste longa uma verdadeira bomba de horror com cenas até hoje
tenebrosas, como o elevador transbordante de sangue, as gêmeas vestidas
de azul, a perseguição na neve e, claro, “Here’s Johnny!”.
O Nevoeiro
(por Caio Vianna)
E falando em Stephen King, nada melhor
que trazermos para a lista aquela que é, na minha opinião, a melhor
adaptação dos contos ou livros de terror do escritor para os cinemas
(sim, não curto muito O Iluminado, achando-o tecnicamente impecável, mas
por vezes enfadonho em sua proposta). O Nevoeiro é daqueles filmes que
te pegam de surpresa, sem mencionar seu final, um dos mais
surpreendentes da sétima arte, e que não só trabalham bem o terror,
explorando o medo do desconhecido e da claustrofobia, como também
aproveitam para debater a sociedade e a religião de maneira direta e sem
contornos, de forma que Frank Darabont sabe fazer tão bem. E Thomas
Jane, Toby Jones, Andre Braugher, Jeffrey DeMunn e Marcia Gay Harden
ainda garantem excelentes interpretações.
O Massacre da Serra Elétrica
(por Rodrigo Rigaud)
Este é daqueles filmes que, ao final,
você não consegue segurar aquele bom e velho “Puuuutaaa queee
paaariiiiuuuu”. Simplesmente porque Tobe Hooper consegue fazer, com 2
big bigs e 4 mariolas, como bem diz o nosso crítico Rick Monteiro, o que
pouquíssimos diretores conseguem na atualidade, com milhões de dólares.
O segredo da obra que revelou ao mundo do cinema o assassino bestial e
demente, Leatherface, com sua grotesca máscara de pele humana, é a
entrega máxima de todos os componentes da equipe na realização do
projeto. Baseada numa bizarra história real, a realização de Hooper é de
longe o projeto mais elegante de todos os de baixo orçamento dos anos
setenta ou oitenta. Sem pressa em mostrar, Hooper apresenta o filme com a
habilidade que conduz a película ao longo de seus 80 minutos. Apesar do
baixo orçamento, a fotografia em tons quentes do parceiro eterno do
diretor, Daniel Pearl, garante que, do outro lado da tela, sintamos o
calor e a sensação angustiante que Sally e Jerry sentem. Marilyn Burns,
coitada, sofreu, correndo de um lado para o outro enquanto era
perseguido por um Gunnar Hansen bêbado e que portava em mãos uma serra
elétrica de verdade e que (pasmem) funcionava de verdade. Não havia
dinheiro para fazer nada “de mentira”, ou seja, tudo era bem real, então
os atores se expuseram a muita coisa grotesca nas gravações, que em si
só já foram um massacre. Um horror autêntico, uma experiência extrema de
desespero, uma genialidade irretocável em fazer com que não desvidremos
nossos olhos da tela. Enfim, o melhor filme de baixo orçamento de todos
os tempos.
Deixe Ela Entrar
(por Márcio Andrade)
Qual a possibilidade de se isolar do mundo a ponto de negar o contato
com o outro? Na citação aristotélica, “O homem é um ser social”,
estamos intrinsecamente destinados a nos relacionar. A delicadeza dá o
tom do relacionamento entre Oskar – um adolescente que cria em torno de
si um círculo de antipatia e rejeição – e Eli – uma criatura fantástica
que abstém-se do contato emocional para sobreviver -, ambos
negligenciados, marginalizados pela sociedade de que desejavam fazer
parte, mas cuja violência – mesmo que simbólica – emergem quase
aceitáveis em Deixe ela entrar, longa do sueco Tomas Alfredson. A
carnificina que Eli realiza na piscina aparece como cena já clássica no
cinema contemporâneo.
O Segredo da Cabana
(por Caio Vianna)
Jovens indo para uma cabana em meio a
uma floresta? Descobrindo artefatos estranhos no porão da casa? Sendo
perseguidos por criaturas que eles mesmos despertaram? Com “cientistas”
apostadores e dançarinos do outro lado? Não! Não é um filme de terror
propriamente dito, embora ainda consiga garantir bons sustos e
excelentes surpresas, mas só por ser, ao mesmo tempo, uma homenagem e
uma crítica ao gênero, além de trazer a espontânea mente de Joss Whedon
por trás do projeto, já garante seu lugar como um dos melhores filmes de
terror de todos os tempos, e tenho dito!
Suspiria
(por Rodrigo Rigaud)
Como eu já escrevi pra caramba em minhas
outras indicações e nosso postador está putíssimo comigo, só reapareci
por aqui para deixar minha menção ao Argento, lógico. Nojento aquele que
não gosta do Argento! E este é daqueles filmes que grudam na memória. O
diretor italiano apresenta a sua câmera como uma apreciadora encantada,
assim como nós, da beleza de seus cenários, exalando cores vivas e
vibrantes, numa paleta de cores quase imposta a seus fotógrafos, com o
vermelho (do sangue, da morte) inundando a tela e nos informando que o
final da obra se aproxima, cruel e surpreendente, como todo Argento que
se preze. A certeza de que o sobrenatural existe, faz de toda a trama
uma tortura necessária, até que o êxtase retesante e cabal seja
decretado. Destaque para a trilha dos “Goblin”, uma das melhores
sinfonias de horror de todos os tempos. Querem um segredo? Esse foi um
dos únicos que não me deixaram dormir à noite. Fiquei com “ela” em minha
mente… Quem é ela? Assistam ao filme para descobrir.
A Profecia
(por Pablo Cardoso)
Anos antes de Stanley Kubrick
aterrorizar o mundo com as gêmeas de O Iluminado, Richard Donner
apresentou Damien, uma criança de cinco anos que, na verdade, é o
anticristo em A Profecia. Nesse clássico, acompanhamos os seus primeiros
atos de horror, que incluem desde sacrifícios em seu nome, como o de
sua babá, até o matricídio. Como se não fosse bastante a atmosfera de
terror criada pelo enredo em si, a trilha sonora inspirada e vencedora
do Oscar de Jerry Goldsmith, e as tiradas interessantes da direção, com
close-ups no angelical rosto de Harvey Stephens e do rottweiler guardião
do protagonista, garantem uma imersão assustadora e tensa do início ao
fim do filme.
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