Obviamente me senti compelido a fazer uma lista nova também. Como o tema é wish-list, resolvi exercitar algo em que ando pensando muito ultimamente: carros novos que posso comprar. Tenho ouvido muito desprezo a carros atuais, mas eu ando interessadíssimo neles, simplesmente por estar cansado de carro velho, e ter recentemente descoberto o que realmente interessa para mim em um automóvel.
Eu aprendi com o grande Bob Sharp a ignorar a imagem que um carro passa de mim; que o homem faz o carro, como faz a mulher em certa música da Maria Bethania (essa, deixo para ele explicar). Isto é fundamental ao olhar esta lista: se você procura um carro que faça o resto do mundo te olhar de uma forma diferente, não vai gostar de nenhum deles.
O critério aqui é simples: tem que ser algo que eu possa comprar (leia-se barato), caber minha família toda dentro, e ter um comportamento exemplar, um carro que seja um prazer para dirigir, tanto sozinho numa estrada sinuosa, como devagar com a família na estrada e/ou transito na cidade esburacada. Confiabilidade total é esperada em todos; não podia ser diferente hoje em dia com um carro zero.
Muita gente pode ficar chateada por esperar mais um festival de inatingíveis exóticos de sonho, mas já fiz muitas listas destas, e acho que é hora de passar um tempo no mundo real. Citando o grande AG, sonho impossível não é sonho, é pesadelo...
1) Fiat Uno Mille
Uma coisa que o Mille tem de sobra, e que nenhum dos Hyundai tão desejados pela plebe ignara sonha ter é simples: pedigree.
Desde o primeiro Fiat 500 “Topolino”de 1936 que só existe um lugar para se comprar um carro pequeno com brio: na empresa de Turim. Seus carros pequenos sempre marcaram época. O millecento dos anos 50 foi a base para a indústria de carros esporte italiana do pós-guerra: de Siata a Cisitalia, de Abarth a Stanguellini, passando até pela Ferrari (cujo primeiro carro tinha um oito em linha construído a partir de dois quatro em linha do millecento), todos devem sua existência ao pequeno Fiat. O Fiat 600 de 1955 era uma revolução, e seu pequeno quatro em linha traseiro com comando no bloco começava uma longa tradição de motores pequenos mais cheios de vontade. O austríaco Karl Abarth fez miséria por décadas com estes carrinhos e seus motores. Os Simca-Abarth de dois litros que acabaram com todo mundo nas competições brasileiras nos anos 60 tinham um motor derivado do 600. A nuova 500 de 1957, o fantástico 127 (147 no brasil), o Panda original de 1980, todos memoráveis carros pequenos, que além de exemplos de engenharia bem feita, eram sensacionais para dirigir.
E o ápice de toda esta evolução ainda pode ser comprado zero km no Brasil. Nenhum outro país tem tanta sorte.
O Mille tem tudo: espaço interno excelente, ainda hoje o melhor da categoria, disparado. Desempenho competitivo; e melhor que isso: uma jóia de motor que adora girar. Economia de combustível excepcional, provavelmente o mais econômico carro do Brasil hoje. Estabilidade exemplar, e com mais do que um pequeno toque de entusiasmo. Conforto ao rodar muito bom.
Um exemplo de projeto bem feito, o Mille consegue desempenho e economia, com um motor pequeno, graças ao peso baixo e a aerodinâmica bem cuidada. O espaço interno é conseguido pelas laterais retas, que ocupam todo o espaço de sua sombra ao meio-dia.
Criado em uma época em que a segurança passiva já era uma grande preocupação, mas não uma obsessão, pode manter o peso baixíssimo, e ainda assim ser bastante aceitável em impactos frontais. Muita gente acha que ele “desmonta” em acidentes, mas na verdade o comportamento dele nestas situações é completamente honesto. E, na verdade, o melhor é não cometer o crime de jogar um carrinho tão simpático contra um objeto imóvel...
A eficiência do Mille como automóvel nunca foi superada pela Fiat, aqui ou no exterior. Ele é o ápice. Depois dele, nada realmente memorável foi feito pela empresa nesta faixa, apenas coisas mais pesadas, mais isoladas, maiores. O recente “cinquecento” é ridículo e irrelevante como um automóvel, ainda que segundo minha mulher e filha, seja “uma graça!”. O Mille não é uma graça; ele é sério demais para isso. É apenas o melhor carro pequeno em produção, em análise objetiva.
Sim, o acabamento dele é espartano, sem enfeites e obviamente barato. Se você dá valor a isto acima da funcionalidade, este não é um carro para você. Mas se como eu, além de admirar a eficiência de um veículo, você gosta de dirigir, garanto que vai adorar. Numa estrada sinuosa, o Mille se move com a graça e a leveza de um atleta experiente; passeia entre uma curva e outra como se dançasse uma valsa; e o motorzinho gira e puxa com toda a vontade, certamente adorando mostrar sua suavidade a altas rotações. O que mais se pode pedir?
2) Ford Focus (I) 1,6 litros Flex
Sim, eu sei que saiu de linha, mas como devem ainda existir algumas sobras nas concessionárias, dei um jeito de colocar ele na lista.
Acabo de voltar da minha quinta viagem anual de fim de ano com a família, usando o 2005 (gasolina, 105cv) de minha esposa, e, mesmo aos 80 mil Km, ainda é um carro sensacional. Completamente confiável e confortável, e com espaço perfeito para nós quatro, não consigo imaginar algo mais bem ajustado às nossas necessidades. Minhas viagens de fim de ano passam por todo tipo de caminho, de estradas de terra a autopistas de 8 faixas, e ele se comporta perfeitamente em todo lugar.
Me faz pensar o que faz este povo todo que anda por aí em imensas peruas derivadas de picapes, ou em minivans. Ignoro totalmente qual é a vantagem real...
O Focus não é um carro entusiasmante; é na verdade tão competente em tudo que a gente acaba por tê-lo na mais alta conta. Quanto mais tempo com ele, maior a admiração. Graças ao cambio de relações longas, permite viagens extremamente rápidas, mas em baixas rotações, e a ergonomia é exemplar. É econômico e razoavelmente potente (melhor aqui na falecida versão Duratec 2.0 de 147cv), e tem um conforto de marcha excelente.
E o comportamento em curvas é o ponto alto: mesmo equipado com pneus de perfil 70 em rodas de aro 14, tem uma estabilidade sensacional, apontando para dentro da curva com vontade, e com uma precisão incrível. Debaixo daquele confortável e tranqüilo carro de passeio, está escondido um carro de corrida. A longa tradição da Ford inglesa em carros de rali aparece claramente no Focus: mais um exemplo de onde o pedigree de uma marca faz diferença.
3) Ford Focus (II) 2.0
É difícil perdoar a Ford por substituir o Focus I por outro mais pesado e mais caro sobre a mesma mecânica, e com espaço interno semelhante. Mesmo assim, ainda é o melhor carro disponível neste tamanho. De Corolla a Megane, de I30 a Vectra, de Civic a Astra, nada bate o Focus (contanto que seja com câmbio manual). O que, para bom entendedor, basta para saber como era bom o anterior...
4) Renault Clio 1.0
Hoje quase tão barato quanto um Mille, o Clio de entrada é um carro talvez ainda mais entusiasmante para andar rápido do que o Fiat, e tem um acabamento interno infinitamente mais bem cuidado. Tem menos espaço interno que o Mille, é claro, mas ainda assim é uma opção um pouco mais esportiva, e com um desenho externo e interno mais palatável a maioria das pessoas.
O Arnaldo Keller vive contando para nós como é legal o pequeno Renault; leiam aqui a avaliação dele.
5) Renault Sandero
6) Renault Logan
A melhor forma que encontro para resumir esses dois é dizer que o Logan trouxe tudo de bom do Mille para uma categoria superior de tamanho, e o Sandero tornou seu design mais agradável.
E minhas lembranças do Sandero 1,6 litro que andei são dominadas pelo desempenho: um carro realmente veloz. Mesmo as versões de um litro andam melhor do que tem direito em um carro deste tamanho. Baixo peso é o segredo aqui.
A Renault fez história com esta família de carros: muito mais ajustados as necessidades do mercado dos países de segunda linha como o nosso, fez tanto sucesso que está sendo imitada por todos os fabricantes que tem ou querem ter presença no mundo todo. O que um alemão espera de seu hatch médio é totalmente diferente do que quer um Romeno, Indiano, ou Brasileiro.
Tem um grande amigo meu que me confessou ter uma tara por um Logan 1.6 pintado de azul e com uma faixa branca por cima, deslocada para a direita, e faróis auxiliares de longo alcance Cibié, igualzinho a um Renault 8 Gordini... E eu entendo ele perfeitamente!
7) VW Polo
O Polo é um exemplo da famosa engenharia alemã: preciso, sólido, bem feito e veloz. Sim, seu câmbio tem relações um pouco curtas demais, mas não posso reclamar de um carro familiar de 1,6 litro que acelera como ele, e que é capaz de passar o dia todo perto dos 180Km/h. A toca de marchas é especialmente prazerosa: alavanca é curta em altura, e proporciona uma troca precisa e suave, mas com aquela sensação mecânica de engate gostoso e bem lubrificado, de sincronizadores empurrando engrenagens de verdade, que sua palma da mão perderá para sempre em breve para a maior eficiência dos câmbios robotizados. Se a VW vendesse só alavanca, com a mesma sensação de engates, comprava uma dúzia e montava até no sofá da sala.
Os vidros sobem e descem eletricamente com aquela sensação de precisão, solidez e robustez que só poderia ter vindo da Alemanha. A carroceria e o interior tem folgas constantes, gaps mínimos entre as peças, e uma sensação de qualidade sem rival.
O Polo, desde o seu lançamento, é para mim o melhor VW nacional. Gosto mais dele do que de um Golf GTI, que apesar de ter as mesmas características de solidez e qualidade, e um bocado de velocidade a mais, carece do entusiasmo e a facilidade de ser dirigido com vontade que o Polo tem.
8) VW Gol
O único da lista que ainda não dirigi. Mas pegar a excelente mecânica do Polo e colocar em um carro mais leve e mais barato não pode dar errado, não é mesmo? Bem, pode sim, e deu muito errado no Fox. Mais uma prova, que um carro é mais que seus componentes, ou, neste caso, menos...
Mas não importa, porque a VW se redimiu completamente no Gol: quem já o dirigiu só tem elogios a ele. Ao contrário do Fox com sua posição de dirigir estranha e CG alto, o Gol é baixo e bem acertado dinamicamente.
O que era inesperado é que, medindo-se objetivamente, tem ruído interno menor que até o Polo! O Gol, que era o pior carro da categoria neste quesito, agora é o melhor.
9) Peugeot 206 1,6 litros 16V
Sim, eu sei que agora o 206 não tem 1,6 litro, só o 207. Mas vou fingir que a Peugeot não colocou um narigão na frente do 206 e mudou seu nome, para não afetar meu julgamento.
O 206 é pequeno para famílias; é talvez o pior espaço interno da lista. É também um carro que parece que foi dado ontem a uma menina de 18 anos que acabou de passar na faculdade. Mas nada disso importa: para dirigir esportivamente, é o melhor da lista.
Seja pelo exótico motor de quatro válvulas por cilindro e 115cv num carro pequeno, seja pela suspensão independente bem ajustada, seja pelos freios a disco nas quatro rodas para parar pouco peso: o carro é sério. Morte mais gloriosa, na maior bola de fogo, de toda a lista, meninos, eu garanto!
10) Fiat Punto
O Punto me apaixonou pela posição de dirigir: o volante anda bastante tanto em telescópio como em ângulo, e nele eu consigo esticar as pernas e manter o volante bem próximo ao peito, com braços flexionados. Hoje em dia, só nele, infelizmente.
Além disso, o banco me mantém no lugar, segurando bem nas curvas e me mantendo confortável e o cinto está na posição correta. O volante tem aro grosso e ótima pega. Só me lembro de estar tão agradavelmente instalado atrás de um volante, além do Punto, no Audi R8. Simplesmente sensacional.
O resto do carro é competente (mas não excepcional), mesmo na versão de 1,4 litros que seria minha escolha. Junte um carro pequeno competente, econômico e com bom espaço interno, com essa posição de dirigir excepcional, e se tem um carro que seria muito bom para usar no dia a dia, e principalmente em viagens longas com a família.
Existe mais um par de carros que podiam estar aqui, mas a lista é de dez somente.Também queria ter posto o Fusion nela, mas este infelizmente é caro demais.
Mas o fato é que tem muito carro divertido por aí para se comprar, se você estiver disposto a olhar além do óbvio, e se desprover de preconceitos.
MAO
fonte:google
Nenhum comentário:
Postar um comentário