A possibilidade de que a desaceleração na China e a retomada dos EUA
ocorram em ritmo mais forte do que o previsto representa um risco para o
Brasil.
As duas maiores economias do mundo caminham em direções opostas.
Se esse descasamento se acelerar rapidamente, o Brasil poderá se deparar
com dificuldades para financiar o crescente rombo em suas contas com o
exterior, que chegou a 3% do PIB (Produto Interno Bruto).
Uma fraqueza mais acentuada da China levaria a uma desaceleração maior
das exportações brasileiras, podendo provocar um maior deficit em
conta-corrente.
Esse saldo negativo nas transações do país com o exterior precisa ser financiado com recursos externos.
Nos últimos cinco anos de deficit, os investimentos estrangeiros diretos
cobriram os buracos. Em 2013, essa situação mudou. O país voltou a
depender de recursos mais voláteis, como investimentos em ações e renda
fixa.
A expectativa de analistas para a entrada desses fluxos no Brasil em 2013 é boa.
A possível pedra no caminho pode ser uma recuperação mais rápida dos EUA.
Isso levaria parte desses recursos a sair de mercados emergentes e
migrar para ativos americanos, principalmente em um possível cenário de
alta de juros nos EUA.
PROBABILIDADE
A probabilidade de que desaceleração mais forte na China e recuperação
mais robusta nos EUA ocorram ao mesmo tempo ainda não é considerada
grande. Mas tem crescido, segundo analistas.
"A chance hoje está entre 10% e 15%. Não é grande, mas também não se
pode dizer que seja um risco pequeno", diz André Loes, economista-chefe
do HSBC.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Economistas ressaltam que, ainda que esse cenário arriscado para o
Brasil se concretize, o impacto para a economia não seria drástico como
em crises do passado.
Reservas de US$ 375 bilhões ajudariam a conter uma desvalorização do real.
Mas, segundo o economista Affonso Celso Pastore, a tendência seria de
uma "correção contracionista" no Brasil, ou seja, com impacto negativo
sobre a atividade:
"Se houver restrição de capital quando os Estados Unidos começarem a
retirar liquidez do mercado, o câmbio no Brasil sofrerá um ajuste",
disse Pastore durante seminário da EMTA (Emerging Markets Trade
Association) na última quinta-feira.
Uma desvalorização mais forte do real pressionaria a inflação, que está
próxima ao teto da meta, de 6,5% (o centro da meta é 4,5%).
Isso poderia forçar o Banco Central a aumentar mais os juros, freando o crescimento bruscamente.
CHINA
A expansão da China já tem perdido ímpeto, o que levou a uma queda nos preços de commodities.
Para Fernanda D'Atri, economista do Bradesco, embora a demanda da China
por commodities como aço deva crescer em ritmo menor, o apetite do país
por produtos agrícolas seguirá firme.
Esse é o cenário da maioria dos analistas, que, no entanto, se mostra
mais preocupada. Recentemente, bancos e consultorias soltaram relatórios
sobre os riscos de expansão menor que os cerca de 8% previstos para
2013.
"Se a China se desacelerar mais fortemente, será um cenário preocupante
para o Brasil", disse a economista Lia Valls Pereira, da FGV.
Duncan Innes-Ker, da EIU (Economist Intelligence Unit), afirma que os
maiores riscos para a China são a dependência de altas taxas de expansão
do crédito para crescer e a falta de reformas.
Em um aparente passo para atacar os problemas, a China anunciou ontem
que abrirá espaço para maior participação da iniciativa privada.
Fonte Globo
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